Marcos e marcas

As pedras são usadas como elementos duradouros para configurar espaços. Também os elementos líticos foram usados como instrumentos para abrir espaços: machados, pontas de flechas...
Em geologia existe um padrão de dureza das pedras, a Escala Mohs, que estabelece, do talco ao diamante, uma escala que varia de 1 a 10, de acordo com a capacidade da pedra de riscar e ser riscada. Mesmo entre as pedras existe àquelas que resistem ou não às outras.
A distância entre o marco e a marca se estabelece aí: no poder de sobreviver. Enquanto o marco é uma permanência, a marca é a ferida. Uma árvore que cai pode produzir uma marca, mas não um marco. Por isso prefiro este. O marco não necessariamente é concreto. Muitas coisas são marcos impalpáveis. Mas as marcas são visíveis, são sulcos, cicatrizes, buracos. A marca é um convite a uma outra marca que a supere... Isto é visível no mass-media, nas pichações dos muros, são superficiais... Os marcos não, são profundos. Sua existência é dependente da vivência e identidade humanas; são interiores.
Há muito tempo me batia com marcas que me cercavam e que a vida tinha me deixado, quando me dei conta do papel fundamental dos marcos do tempo. Eles estão em tudo que é dotado de significado na nossa vida. A dificuldade é, na vivência contemporânea, nos permitirmos à necessária análise e eleição dos nossos marcos pessoais.
Trabalhando na área de patrimônio cultural, especialmente o arquitetônico, percebi a importância da vida na manutenção das pedras. Não só na função conservativa dos edifícios, mas dotando de significado real aos imóveis. Um de meus marcos pessoais é "O Edifício", de Will Eisner. Sua genialidade não me permite falar mais sobre o tema.

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