Teatros da Memória, Dramas do Presente

Esse título me foi sugerido pelo grande amigo Edilson Motta, arquiteto, pesquisador e mente brilhante desta terra.
Vocês já devem saber que o processo de tombamento municipal do Teatro São Cristóvão foi indeferido. Isso foi um dos motivos do meu desânimo dos últimos dias: a sensação de impotência é, pelo menos para mim, algo muito ruim.
Não adianta ter pessoas capazes e inteligentes, como João de Jesus Paes Loureiro, Ester Sá, Vicente Salles, Dorotéa Lima, Maria Eugênea... "forças ocultas" sempre conspiram (às vezes de forma nem tão oculta assim), sempre no sentido do particular, em oposição ao coletivo.
Aí vem o discurso: vamos gerar empregos, os proprietários estão passando necessidade financeira, é melhor para a cidade... todos os argumentos refutáveis, se for ouvido o outro lado.
Não se gera emprego a longo prazo em uma propriedade particular. Os imóveis têm que ter uma função social, promover uma dinâmica viva na cidade e, dessa forma, efetivamente, gerar emprego e renda, além de outros valores mais.
Enquanto o edifício da Associação dos Chauffeurs e do Teatro São Cristóvão estava em pé e em uso, mesmo que precariamente, abrigava ações, como espetáculos e renovação de carteirinhas de meia-passagem, gerando o dinheirinho necessário à manutenção de seus filiados.
Aí incorporadores imobiliários fizeram o canto de sereia, oferecendo um ganho financeiro "imediato" (isto é, compra do imóvel), se fazendo de cegos à legislação e à vários pareceres indicando a inviabilidade do empreendimento. Começa-se a pressão...
Nós somos preservacionistas ou apenas coerentes e éticos?
Não estou aqui defendendo o valor referencial deste ou daquele prédio, mas a necessidade de aproveitar esse momento para um choque ético nesta cidade.
Na década de 1980 houve um movimento de defesa do patrimônio de Belém, que garantiu que fosse consolidado um pensar amplo sobre esta cidade. Vinte anos se passaram, quase trinta, e não houve uma conscientização ampla da população.
Onde estão os movimentos sociais urbanos em Belém, efetivamente? O pouco que havia se tornou palco de barganha de cargo...
Podemos tratar ruinas como entulho, como referenciais históricos ou como bases para novas construções.

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