Cápsulas do tempo

Recebi por e-mail de Denir Miranda uma matéria sobre um imóvel que foi mantido fechado por 70 anos em Paris, que reproduzo aqui.

Mais do que imóveis fechados, conheço várias cápsulas do tempo, com suas testemunhas vivas que são o ânima de várias casas em Belém. Tem o frescor de eternidade, do tempo que passa mas que se mantém vivo, do passado sempre renovado.
Gostaria que, durante a leitura, refletissem sobre a (i)lógica daqueles que insistem em fazer os outros acreditarem que não há riqueza na preservação do passado.


"Durante sete décadas um imóvel localizado na cidade de Paris manteve-se completamente fechado para o mundo. A dona que o abandonara pagava seu aluguel fielmente, mas não contou para ninguém sobre esse esconderijo. Após seu recente falecimento, a família descobriu esse incrível tesouro.
Do lado de fora de qualquer janela de Paris vê-se hoje a Paris do século XXI, com suas vestimentas modernas, seus políticos eleitos de forma democrática, e dentre todas as coisas, enxerga-se principalmente, a crise econômica de todo um continente que viveu nos últimos 70 anos o ápice do capitalismo. Mas, surpreendentemente, por detrás de uma das cortinas de um modesto apartamento na cidade da Luz encontra-se uma cápsula do tempo: Um imóvel que foi abandonado um pouco antes de eclodir a segunda guerra mundial e até a poucos dias nunca fora aberto.O imóvel pertencia a Sra. Marthe de Florian, uma bela atriz e socialite francesa da Belle Époque, que se mudou para o sul da França em meados de 1944, alegando fugir da guerra e nunca mais retornou a capital. Após seu recente falecimento aos 91 anos de idade, seus herdeiros iniciaram a busca por um inventário para que seus bens pudessem ser divididos e então, o apartamento fosse reaberto.
Após 70 anos dessa cápsula do tempo fechada, a primeira equipe finalmente adentrou esse espaço surpreendente e comparou a sensação da primeira vista a entrada no castelo da Bela Adormecida onde o tempo havia parado, desde 1900. A quantidade de poeira e teias de aranhas eram incontáveis. E o silêncio esmagador.
E quando vejo as fotos, parece-me que a estaticidade das coisas encenam a história de uma década que jamais poderá ser palpada novamente de maneira tão autêntica como essa experiência pôde proporcionar.
Os primeiros itens notados por Olivier Choppin-Janvry, o homem que fez a descoberta, foi um avestruz empalhado, uma penteadeira e um Mickey mouse que datam antes da guerra.
Todos os três itens são realmente provocantes e guardam em si um toque atemporal. A penteadeira guarda histórias de amor e vaidade vividos por sua dona que atravessaram todos esses anos, assim como o avestruz empalhado querendo enganar a morte resistiu a passagem do tempo. Mas o único que realmente mantém-se vivo em essência até hoje é o eterno contemporâneo Mickey mouse.
Quando a equipe achou ter visto de tudo no meio desse baú de tesouros, percebeu que nesse incrível imóvel havia algo mais. Atrás da porta principal havia um quadro de uma bela mulher vestida de rosa. E junto do quadro havia cartas de amor amarradas com fita colorida. Um dos membros da equipe de inventário suspeitou que essa peça fosse um membro muito importante do tesouro.

Após a análise com minúcia do quadro, chegou-se a conclusão de que era um quadro de Giovanni Boldini, um dos pintores impressionistas mais importantes de Paris da Belle Époque. E que a mulher retratada era a própria Sra. De Florian, dona do imóvel, aos seus 24 anos de idade. Em suas cartas havia declarações de amor para Boldine, que era casado, mas mesmo assim a tinha como amante e musa. Após essa descoberta o quadro foi a leilão e arrematou o valor de US $ 3 milhões, um recorde mundial para o artista.

 Este imóvel guarda muitos segredos, como o coração de Sra. De Florian. Viveu ali uma linda mulher que se envolveu com um magnífico pintor que deixou como fruto para a sociedade um belíssimo quadro. Só não sabemos o porquê da senhora De Florian ter abandonado o imóvel por tantos anos, mas ter feito questão de pagar o aluguel do mesmo regularmente.
Há muitas especulações sobre sua partida. Pode ter sido para fugir dos nazistas ou para manter o amor impossível que sentia por Boldini vivo e intocado para todo o sempre."
Fonte: Telegraph

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