Em defesa do patrimônio vivo

Recebi há pouco a notícia que a presidente da Associação da Cidade Velha (CiViva), Dulce Rocque, está se sentindo assediada e ameaçada por sua postura como cidadã em defesa da cidade de Belém, especialmente em relação à proposta de intervenção no Ver-o-peso e quanto à ocupação da faixa da orla de Belém por grandes empreendimentos imobiliários.
Dulce Rocque é uma militante em vários segmentos, mas, depois de seu exílio no período da ditadura, retornou para Belém e, como moradora da Cidade Velha, vem sendo atuante em vários momentos e discussões sobre as questões da cidade. A denúncia foi feita pela própria, em rede social, a qual não quis expor maiores detalhes, mas, por conhecer pessoalmente seu perfil e integridade, não tenho motivos para duvidar de seu temor.
Lembrando-me de uma frase do Teixeira Coelho:
"Barbárie não é necessariamente gritos e sangue jorrando. Pelo menos, não no começo. Outro nome para a barbárie é a indistinção. Quando uma época não conseguir distinguir entre uma coisa e o seu contrário, essa é uma época de barbárie."
Para quem não sabe o que está ocorrendo em relação ao Ver-o-Peso (embora hajam capítulos posteriores a isso, não menos grotescos) acompanhe nesse link.
Quando uma cidadã se sente insegura em relação às estruturas públicas, às forças econômicas, quando o direito de expressão de uma sexagenária é ameaçado covardemente, simplesmente por ter opinião e por conduzir questões de ordem coletiva à discussão pública ou à instâncias que devem zelar pelo coletivo, como o Ministério Público, quando os órgãos e funcionários se escondem em mirabolâncias de marketing para, em sua fragilidade, rebaixar  ao nível delas a discussão, atropelando o acordo social, a lei, as relações humanas... Há muito não tenho como duvidar que já chegamos à barbárie. Alguém precisa gritar que o rei está nu! Dulce faz esse papel.

[aviso aos incomodados que esse texto que acabo de postar no meu blog é a cópia do e-mail encaminhado ao grupo do ICOMOS-Brasil: somos muitos, muito mais que possam pensar]

Comentários

José Ramos disse…
Muito bom o teu texto, Cláudia. Mas, acho que a ameaça não deve passar de uma pressão psicológica. Vou ver se entendo melhor o que houve. Não devemos nos estressar mais do que o necessário. Bem, precaução, caldo de galinha, não fazem mal a ninguém.
Claudia disse…
José Ramos, a partir do instante em que a liberdade de livre expressão é ameaçada, já é grave. Violência psicológica também é violência e me preocupo muito com a fragilidade de quem defende o certo pelo simples direito de fazê-lo. Quem o faz por obrigação, esses devem sofrer pressão em dobro, mas um cidadão deveria ser respeitado por fazer o que as instâncias públicas não fazem.
Imagine se não houvessem cidadãos como Dulce, você...

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