Samba carioca e história política

“Quem sou eu? Quem vem lá?”: o carnaval carioca da propaganda ufanista à crítica nacional é o título da monografia de Raphael Diaz que foi defendida ontem, com nota máxima e indicação para publicação e mestrado. Um trabalho de grande fôlego para conclusão da graduação em Comunicação Social e feito por um jovem que tem tudo pra ser apontado em pouco tempo por sua competência, seja que área seguir. Confesso: sou fã desse rapaz que conheci no mundo virtual, mas o qual já tive o prazer de abraçar ao vivo e tê-lo, com muito carinho, na minha rede de amizades extemporâneas pois, apesar dos seus 20 anos, possui conteúdo e maturidade master. Sua monografia conta com um conteúdo, um anexo, maravilhoso: um blog com os sambas analisados em sua pesquisa, que percorre o período de 1943 a 1989. Acessem!

Sobre o trabalho

SOUZA, Carlos Raphael Ferreira Gonçalves de.“Quem sou eu? Quem vem lá?”: o carnaval carioca da propaganda ufanista à crítica nacional. 106f. Monografia (Bacharelado em Publicidade e Propaganda) – Curso de Comunicação Social, Universidade Veiga de Almeida – campus Cabo Frio, Rio de Janeiro, 2012.

Sete semanas antes do Domingo de Páscoa a cidade se enfeita. Foliões e mascarados abandonam a censura da vida diária para se divertir em uma época do ano historicamente dada aos exageros. O carnaval, festa que ganhou seus contornos na Paris do século XIII, chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas. Por meio delas, também vieram costumes e crenças que se replicaram pela “nova terra”. Somos um Brasil neo-lusitano ou uma mistura sem fim de várias culturas? As reflexões aqui apresentadas orbitam em torno de uma criação genuinamente nacional: o samba-enredo. Parte do cancioneiro carnavalesco, teve sua origem nas rodas de samba da casa de Tia Ciata, na Praça XI, e embala desde o começo do século XX, os desfiles das Escolas de Samba da cidade do Rio de Janeiro. No caso dessa monografia, o objetivo é analisar como o carnaval, pela figura do samba-enredo, foi utilizado como ferramenta de propaganda ufanista e de uma posterior crítica nacional, após seu primeiro estatuto, criado pela União das Escolas de Samba em 1934, onde se exigiu temas nacionais nas composições a partir de então. Para tal proposta, além do tradicional embasamento teórico, foram analisadas as letras de 110 (cento e dez) sambas-enredos do período de 1943 a 1989, de forma qualitativa, para se comprovar seus usos. Essa utilização, do povo e para o povo, ganhou força e foi fomentada durante o Estado Novo, período ditatorial comandado por Getúlio Vargas. Ao mesmo tempo, começava a Segunda Guerra Mundial, que inundou o carnaval do patriotismo exacerbado, parte do plano do governo estado-novista. Com o fim da guerra e do Estado Novo, o Brasil já tinha se acostumado ao “novo” carnaval, tanto que foi “importada” pelos militares, depois do golpe de Estado de 1964. Com o tempo, porém, o carnaval que brindou ao poder, se transformou em voz dissente, criticando a situação econômica e social do país. Seja como propaganda nacional ou crítica da vida diária, o samba-enredo ajudou a criar uma sociedade onde pierrôs, arlequins e colombinas pudessem se sentir, enfim, brasileiros.

Palavras-chave:Identidade; Representação; Carnaval carioca; Samba-enredo; Propaganda nacional.

Comentários

Débora Soares disse…
A história do carnaval se confunde com a história da cidade do Rio com um todo. Desde a criação da Unidos de São Carlos, em 1927, tudo foi crescendo e se desenvolvendo. Sou carioca e completamente fã da folia! Quem venha o carnaval 2013. Ah, o Rio de Janeiro!
Claudia disse…
Sim, Débora! Sou carioca, moro em Belém e, aqui, sou jurada de carnaval. O trabalho do Raphael reflete a profundidade de enfoques da folia. Que venha 2013!

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