No que mudei
Há dias em que tomamos atitudes que levamos para toda a vida. Em pequenas mudanças, vamos deixando de ser o que fomos e passamos a se o que desejamos. Isso é o que acreditam aqueles que creem num processo de constante evolução e envelhecimento, que nos força a sermos cada dia mais responsáveis, duros, sisudos...
Há um senso-comum sobre mim: que eu mudo com muita facilidade. Pessoas costumam se esquecer de mim, também, com muita facilidade e, depois, ao reencontrar, dizer "nossa, como você está diferente!" e isso reforça a teoria da mudança paulatina e cumulativa. Não sei se eu sou tão camaleônica assim, sinceramente. Creio que os meus amigos mais antigos, aqueles que me conhecem há mais de 30 anos, não estranham a Claudia que sou agora. Ao contrário, sei, alguns festejam por entenderem que eu levei muito tempo para ser o que eu já deveria ter sido há mais tempo.
Contudo, nesse ínterim a vida não foi fácil para mim. Tive que me adaptar a pessoas e circunstâncias, pessoais e profissionais, engolir muito cururu, ofuscar e esconder o que eu sempre fui pois, nos lampejos da minha verdade, era tida como arrogante ou mitômana. Não tive testemunhas do meu passado que pudessem me defender e, por longos anos enfrentei sozinha cada pedra e buraco. Sim, sou diferente do que eu pensaria ser aos 50 anos, mas meus amigos me reconhecem; não sou estranha, nem a mim nem a eles, nem aos que tiveram sensibilidade de perceber além da superfície, da casca.
Não pretendo me justificar, não pretendo ser didática sobre a minha personalidade. Uma coisa que realmente desejo com 50 anos é não precisar me explicar para ninguém e ter ao meu lado apenas as pessoas que tiverem a sensibilidade de perceber quem eu sou e, mesmo que não goste, me respeite. Escondo meus cabelos brancos nas tintas, oculto minhas marcas sob a maquiagem e amo quem me veja para além das camadas que não me pertencem. O que sou, transpira, escorre pelos meus olhos, brilha e se apaga. Os gestos são, às vezes, necessários, mas podem ser apenas funcionais ou cênicos. A consequência do que eu faço não sou eu, é o resultado de trabalho, estudo, energia e um pouco de sorte, às vezes.
O que sou não defino, é primordial e imutável. Me acompanha nas memórias teimosas e desejos que, muitas e não raras vezes, são inconciliáveis com a realidade; está num certo azar em fazer escolhas perfeitas e descompassadas; mantém viva minha insegurança e timidez, a despeito de minha coragem já testada e exercitada, quase suicida.
No que mudei? Nada.
Há um senso-comum sobre mim: que eu mudo com muita facilidade. Pessoas costumam se esquecer de mim, também, com muita facilidade e, depois, ao reencontrar, dizer "nossa, como você está diferente!" e isso reforça a teoria da mudança paulatina e cumulativa. Não sei se eu sou tão camaleônica assim, sinceramente. Creio que os meus amigos mais antigos, aqueles que me conhecem há mais de 30 anos, não estranham a Claudia que sou agora. Ao contrário, sei, alguns festejam por entenderem que eu levei muito tempo para ser o que eu já deveria ter sido há mais tempo.
Contudo, nesse ínterim a vida não foi fácil para mim. Tive que me adaptar a pessoas e circunstâncias, pessoais e profissionais, engolir muito cururu, ofuscar e esconder o que eu sempre fui pois, nos lampejos da minha verdade, era tida como arrogante ou mitômana. Não tive testemunhas do meu passado que pudessem me defender e, por longos anos enfrentei sozinha cada pedra e buraco. Sim, sou diferente do que eu pensaria ser aos 50 anos, mas meus amigos me reconhecem; não sou estranha, nem a mim nem a eles, nem aos que tiveram sensibilidade de perceber além da superfície, da casca.
Não pretendo me justificar, não pretendo ser didática sobre a minha personalidade. Uma coisa que realmente desejo com 50 anos é não precisar me explicar para ninguém e ter ao meu lado apenas as pessoas que tiverem a sensibilidade de perceber quem eu sou e, mesmo que não goste, me respeite. Escondo meus cabelos brancos nas tintas, oculto minhas marcas sob a maquiagem e amo quem me veja para além das camadas que não me pertencem. O que sou, transpira, escorre pelos meus olhos, brilha e se apaga. Os gestos são, às vezes, necessários, mas podem ser apenas funcionais ou cênicos. A consequência do que eu faço não sou eu, é o resultado de trabalho, estudo, energia e um pouco de sorte, às vezes.
O que sou não defino, é primordial e imutável. Me acompanha nas memórias teimosas e desejos que, muitas e não raras vezes, são inconciliáveis com a realidade; está num certo azar em fazer escolhas perfeitas e descompassadas; mantém viva minha insegurança e timidez, a despeito de minha coragem já testada e exercitada, quase suicida.
No que mudei? Nada.
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