Cinemas, hotéis e teatros que fecham... o que nos dizem?
Há algum tempo temos convivido com situações na área da preservação do nosso patrimônio arquitetônico que nos leva à questão do "tombamento de uso". Em Belém, convivemos com várias histórias destas, como dos cinemas Independência, Olympia e Palácio, o Grande Hotel, o Central Hotel, o Teatro São Cristóvão, Café Santos, farmácias Cardoso e César Santos & Cia... outras anunciadas, como a Farmácia República, Casa Americana, Paris N'América...
A preservação do imóvel residencial ainda é mais fácil que a do edifício de uso comercial. Muito embora a memória social seja mais referente aos espaços que convivemos, é mais fácil associar aos espaços privados possíveis estórias de fatos relevantes, que justificariam o tombamento ou obras de recuperação, como ficou transparente nas declarações do prefeito municipal de Belém em entrevista sobre a inauguração do Palacete Pinho. Mas sobre isso, vale outra postagem mais adiante.
A preservação do imóvel residencial ainda é mais fácil que a do edifício de uso comercial. Muito embora a memória social seja mais referente aos espaços que convivemos, é mais fácil associar aos espaços privados possíveis estórias de fatos relevantes, que justificariam o tombamento ou obras de recuperação, como ficou transparente nas declarações do prefeito municipal de Belém em entrevista sobre a inauguração do Palacete Pinho. Mas sobre isso, vale outra postagem mais adiante.
De fato não existe o tombamento de uso e acho que nunca deveria existir, para o bem de nossas identidades. Contrassenso? Não. Vou explicar.
Os usos são necessários, e mesmo aqueles que se apresentam deficitários nos são referenciais e deveriam possuir leis de incentivo à sua preservação, mas não como tombamento, mas para manutenção de suas atividades originais. É o caso das perfumarias tradicionais de Belém, que mantém o Cheiro do Pará (o perfume das ervas aromáticas, não aquele do Ver-o-Peso!) como um "patrimônio cultural sensorial": algumas delas passaram pela Incubadora de Empresas da UFPA, como a Chamma da Amazônia e vão muito bem obrigada!
Algumas formas de intervenção do Estado são necessárias, como os incentivos fiscais. Para a Farmácia República, Casa Americana ou Paris N'América por exemplo, acredito que o Estado deveria
possuir formas de redução de alíquotas de ICMS, por exemplo, para atividades comerciais em edifícios com preservação integral (inclusive mobiliário, como é o caso dos exemplos citados). Isso poderia gerar também a adequação e uso de imóveis preservados por novos usos, com índices diferenciados.
Tombamento e desapropriação não são as únicas armas possíveis!
Se tudo se resolver por ato administrativo, teremos as nossas cidades transformadas em grandes "Gabinetes de Curiosidades", num colecionismo que transforma o Estado no grande mecenas, só que sem dinheiro para promover o desenvolvimento da cidade.
Cinemas são importantes? Claro! Há demanda de público? Evidente. Então, porque eles fecham? Esta é a pergunta.
Em Belém temos o Cine Olympia, que é, segundo consta, o mais antigo cinema em atividade ininterrupta no Brasil. Foi adquirido pelo município, mas Belém tem uma política séria na área da produção audiovisual? Não, muito embora possua uma produção extremamente relevante neste sentido, e militantes sérios desta área; onde está o ponto, então?
Ao meu ver, sem um processo sério de educação para a cultura, outros cinemas vão fechar, teatros vão estar vazios, museus entregues ao colapso, centros históricos vão ao chão... no silêncio da turba da cidade, sem que ninguém veja.
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