O velho e o idoso

Eu gosto de idosos. Parece uma afirmação lógica para alguém que se propõe a trabalhar na área da preservação do patrimônio, mas não é. Uma coisa é ter afinidade ou gosto pela disciplina patrimonial, estudar o passado, outra coisa é apreciar conversar e aprender com a experiência humana de pessoas que trazem tanto em sua bagagem e que, normalmente, já possuem consciência de sua finitude, mas que continuam extremamente vivos. Porque velho não é idoso, e vice-e-versa! Nem casas, nem gente...
O velho é ter o peso do tempo, como um grande carrilhão, pesando em sua bagagem, não permitindo seu caminhar, enterrando antecipadamente os passos. Eu sei, já fui velha! Já até morri, algumas vezes, por doença, suicídio ou velhice... Sim, a gente morre em várias oportunidades na vida, e nos é dada a chance de renascer, de nova vida, da vida-além-da-vida nesse mesmo hiato entre a certidão de nascimento e de óbito.
Idoso é diferente: tem uma relação clara com o tempo, consciência do que correu, de suas marcas, da dimensão do seu acúmulo na estrada percorrida. O idoso é sempre uma fonte de aprendizado, mesmo que ele não seja um doutor diplomado em algo que a burocracia exija, mas é honoris causa de sua escola, de suas escolhas, a visão perspectiva de quem subiu um monte e vê com grande clareza, um especialista no seu trecho percorrido. E, quem é capaz de negar o quão prazeroso é conversar com um especialista, de qualquer área?
Eu sempre quis ser idosa. Tive vários exemplos admiráveis na vida. Meu sonho era casar "até que a morte nos separe" com alguém que, a exemplo do Seu Inácio e Dona Idalina, meus olhos cansados pudessem acompanhar todos os dias, descendo a rua até a padaria para abastecer o café da manhã. Ou Tio Toninho e Tia Edina, sempre com o mesmo sorriso, carinho e quitutes a receber a gente. Ou ainda como Dona Leni e Seu Monteiro, que vão três vezes por semana fazer pilates juntos. Mas quando somos jovens, por mais que tentemos, não conseguimos visualizar todos os desvios, atalhos e acidentes do percurso e, por mais que desejemos, não chegamos ao que queremos, pois não temos a experiência de fato. Alguns jovens, com espírito velho, como já fui, podem talvez acreditar que com essa atitude frente à vida estarão protegidos de errar, mas não é verdade, acreditem. A verdade da experiência é que faz a pátina de nossos bronzes, somente a chuva dos anos vai deixar as rugas nas paredes de nossas fortalezas.
Nem tão velhos nem tão jovens! Defendo a marca do tempo, devida preservação e manutenção da matéria original do bem que somos. Nada de velhos que se acham jovens, que negam-se e se tornam ridículos! Podemos ser jovens com cem anos, ter atitude fresca e mente aberta até competir com Matusalém, mas mentir idade, jamais. Mentir é um vício de quem não se encontra jamais.
Estou há poucos meses de completar cinquenta anos e muitos dirão que é muito pouco para eu me considerar idosa, e é verdade. Mas estou me preparando para os anos que virão, onde pretendo viver plenamente como idosa que serei, em plenitude e com muitos planos pessoais e profissionais. Passei 24 anos no Rio de Janeiro, outros 24 anos em Belém, e iniciei mais um ciclo de 24 anos em Boa Vista (com possibilidade de quebra do ciclo) até a nova fase, sabe-se lá qual. Há muito o que viver ainda!

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