A invasão das passarelas em Belém

Há muito tempo que Belém tem se tornado um arremedo de cidade, o que é assustador. Não é o espaço dos cidadão, não há civilidade, as pessoas estão para serem movidas de ponto a ponto de forma quase mecânica e desumana. Dane-se pensar na qualidade de uma rede de serviço de transporte digno: o que importa é entulhar as ruas com automóveis, que são cuspidos dos inúmeros edifícios que têm irresponsavelmente adensado a área central. Plano Diretor? Pra quê, se o não se regulamentam os instrumentos de controle urbanístico?
Qualquer ocupação do espaço aéreo da cidade, desde a projeção de uma marquise quanto a simples colocação de uma floreira na calçada são ávidamente foco da atenção dos profissionais da SEURB, que aplicam multas. Muito bem! Mas quando a Assembléia Paraense fez a sua passarela do nada para lugar nenhum de suas propriedades no Souza, para atendimento exclusivo aos usuários da sede campestre deste clube privado, questionei no blog do arquiteto autor da proeza que, laconicamente respondeu.
O mondrongo que o prefeito afirma ser "o novo ponto turístico de Belém", a passarela de acesso ao shopping Castanheira é mais uma prova de que, a despeito do bom senso, o que vale é garantir a eficiência do fluxo para o atendimento dos interesses privados. Aliás, o coletivo pouco interessa, se não estiver a serviço do privado... Sob o discurso de mobilidade, de acessibilidade, estão sendo feitas atrocidades em Belém.
Há anos trabalhei no Departamento de Patrimônio Histórico de Belém e analisávamos as questões referentes às propostas de intervenção que atingiam áreas tombadas. Àquela época reprovamos a proposta esdrúxula do grupo Y. Yamada em fazer uma passarela entre o "estacionamento" e a sua matriz, em pleno Centro Histórico de Belém. Esclarecendo: o "estacionamento" é um conjunto de imóveis com seu interior destruído, mantidas suas fachadas externas; entre esses imóveis o edifício em processo de tombamento da antiga Escola de Engenharia. A Yamada Matriz é um câncer que vem carcomendo o outro quarteirão, também remembrando imóveis e anexando-os a um volume disforme. Detalhe: o remembramento de lotes é ilegal, de acordo com a Lei municipal 7.709/94, que rege o Centro Histórico de Belém!
Mais um dado: essa monstruosidade é na área de entorno do Arquivo Público do Estado do Pará! Um incêndio nessa loja provocaria perda irreparável ao acervo do APEP, que mantém a história colonial da Amazônia sob o título de Patrimônio da Humanidade. Nesta mesma área temos também a Capela Pombo. Isso pra citar elementos de valor histórico e artístico irrefutável, sem consideramos as questões de visibilidade do conjunto... AH... Como podem ser tão primários?
Mas me chega por e-mail a partir de uma fonte confiabilíssima a informação que já foram aprovadas na SEURB as seguintes passarelas: Y.Yamada no CHB, Pátio Belém-Visão Móveis na Travessa D. Pedro, a da Beneficente Portuguesa e a do Hospital Porto Dias na Trav. Mauriti!
BELÉM VAI SE TORNAR UMA NÃO-CIDADE, UMA "PALAFITA AÉREA"!
Precisamos COM URGÊNCIA nos mobilizar para que o legislativo não aprove o projeto de lei do executivo que visa regulamentar esse tipo de intervenção!
Vamos discutir com seriedade a cidade de Belém!

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