A FÁBULA DE UM CORPO APRENDIZ


Com dois anos de idade, uma criança vai assistir a apresentação da prima de nove anos que se iniciava nos passos de ballet com a professora Vera Torres, dançando no Theatro da Paz. Essa menina passa o espetáculo em pé no colo de sua mãe, na plateia, que fica angustiada com o incômodo que ela possa estar causando aos que estão atrás, mas nada faz com que a criança sente. A partir daí, essa criança passa a repetir as coreografias pelos espaços da casa e tem um sonho: ser bailarina. Não ser professora de ballet, mas dançar nos palcos mais lindos, chamar o Theatro da Paz de “minha casa”, girar como numa caixa de música de corda infinita.

Aos seis anos de idade, ingressando na Escola de Teatro e Dança da UFPA, passa a fazer oficinas livres, vira uma pequena galinha saltimbanca e se apresenta no Teatro Margarida Schiwazappa e no Teatro da Paz. Embora isso pudesse satisfazer o sonho da criança, ela queria mais, e prosseguiu na escola no Curso Experimental de Formação de Bailarinos, no Curso Técnico e, a contragosto, na Licenciatura em Dança. Afinal ela queria o palco dos holofotes e a plateia de admiradores, não a cena de ser professora!

A menina foi crescendo e ampliando sua forma de olhar o mundo, lapidando a postura profissional e crítica que se manifestava desde os seus primeiros passos em sapatilhas. Fincou seu pézinho capricorniano em posições difíceis, viajou léguas, superou dores diversas e manteve-se em pé.


O sonho da bailarina ainda não tinha acabado, ao contrário, se expandido quando em 2007 recortou uma matéria no jornal sobre o Workshop de Ballet de Repertório: sim, dançar grandes ballets, ter ensaiadores profissionais, conhecer bailarinos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, era isso que queria.

Foto de Bob Menezes
Contudo, foi a partir daí que, entrando na Ballare Escola de Dança (que ela já admirava por algumas apresentações onde observou a precisão técnica das bailarinas, mesmo aquelas pequenas fadadas ao sorriso complacente do erro) que se encontrou uma forma diferente de trabalhar o ballet clássico, comparado com todas as formas anteriores que já havia experimentado. Não foi apenas o reaprendizado do ballet a partir de um método diferente do aprendido até ali (essencialmente Vaganova) e tendo o status de receber certificados por aprovação em níveis da Royal Academy of Dance, com o patronato e selo de uma rainha. Era um lugar onde a essência do ballet clássico era apreendida e ensinada, respeitando suas especificidades, com a necessidade de aprender dança de caráter e mis-en-scene; onde também se ensinavam outras modalidades de dança além do clássico, mas não havia a imposição de uma estética contemporânea ou moderna (embora também fosse lugar de experimentação de várias linguagens da dança), mas nem por isso deixava de ser um espaço de atualização e inovação. Foi na Ballare que percebeu a importância do ensino do ballet clássico e das diferentes abordagens, necessárias a um educador, e se tornou professora.

MORAL DA HISTÓRIA

O gato bebe leite, o rato come queijo e eu faço o que sei fazer melhor (O Palhaço)

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