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“O caminhar lento surgiu na filosofia e na poesia como a figura do flaneur.
Personagem do final do século XIX, era o indivíduo que vivia na rua como se estivesse em casa, fazendo dos cafés a sua sala de visitas e das bancas de jornal a sua biblioteca.
Este homem ainda podia se pretender um olhar capaz de captar as coisas como elas eram.
O seu olhar era correspondido.” (Nelson Brissac Peixoto)

Quantos conhecem a cidade onde vivem? Passamos tão ao largo da realidade que nos cerca, presos aos nossos mundos que construímos a partir das necessidades individuais (às vezes tão abstratas), sem perceber um mundo real, concreto, físico diariamente à nossa volta. Este mundo exterior que nos contém é simbólico, quer nas relações humanas, quer nas relações homem-espaço e homem-objetos.
Quantas vezes nos deparamos com um detalhe, ou edificação, ou mesmo cenário da cidade que, com surpresa, afirmamos nunca termos “vistos”? Maria Cecília França Lourenço, que trata o mesmo universo do presente trabalho (objetos tridimensionais implantados a céu aberto e em áreas externas) destaca a necessidade de “vivificá-los, já que podem estar tão banalizados pelo cotidiano, que não mais se destacam na paisagem”.[1] Este deve ser o esforço principal do trabalho que agora se apresenta.
Mas se cada um de nós não buscar ver a cidade, estar de olhos abertos para o que nos cerca, nenhum esforço intelectual ou institucional será válido.
Deixar fluir a cidade como se a visse pela primeira vez, como um “olhar de estrangeiro”, que descobre detalhes com surpresa e admiração.

[1] LOURENÇO, Maria Cecília França et al. Obras escultóricas em espaços abertos da USP São Paulo, p. 12.

(Trecho retirado da monografia "Marcos do Tempo", 2005)

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