Buscando tirar notas de rodapé e legendas

Ontem, uma grande amiga me chamou para um evento que estava promovendo, pela primeira vez, na Casa da Linguagem da Fundação Curro Velho. Pedido de amigo, pra mim, é ordem que só não cumpro se já tenho outro compromisso. Não tinha. Fui. Precisávamos colocar algumas conversas em dia...
É daquelas mulheres maravilhosas, com quem a gente tem poucas oportunidades de canalizar um longo papo, por ser uma pessoa de um dinamismo - de ação e de pensamento - muito rara: Lídia Souza.
Falei-lhe várias coisas, em flashes, e que ela queria saber mais. Uma dessas coisas foi que eu comecei a escrever, ou melhor, escrever textos que não sejam relatórios, minutas e pareceres. Sempre tive prazer na palavra: lida, escrita e bem falada. Possivelmente por isso estou com esse blog, buscando esse prazer. Peguei algumas coisas já impressas e levei na mão, para pedir a opinião da Lídia assim que tivesse oportunidade.
Só quando cheguei lá, percebi o tipo de evento: um sarau. Todo mundo esperava o fim da sessão de cinema da Casa da Linguagem e a chegada de Yuri Guedelha para fazer o fundo musical com sua flauta. Comentei o fato com uma outra pessoa amiga de estar lá, com aqueles textos e ela insistiu que eu lesse. Não tenho prazer de me expor dessa forma, até porque, no meio daqueles escritores que compõem o Movimento Literário Extremo Norte eu, que já não sou ninguém, me sentia um nada como 'escrevinhadora'. Yuri pegou um deles (Satélite) e leu por mim. Foram gentis e aplaudiram. Depois de muita insistência, leu outro (E se fosse possível voltar no tempo). Já na saideira, tomei coragem e li um curtinho (Suicídio), e dediquei à Lídia Souza:

"Se me encontrarem morta num quarto de hotel, foi suicídio.
Mesmo que a perícia técnica afirme que não, que testemunhas falem ter visto outro alguém, insistam, foi suicídio. Provas, laudos, infravermelhos, depoimentos, nada será capaz de desvendar o fato real, fundamental, da minha morte. Se encontrarem outras digitais que não as minhas na faca com meu sangue ou pólvora nas mãos de outro, defendam-no. Ele foi mais uma vítima da trama, apenas o operador da máquina.
Foi suicídio."


Um dia essa amiga, fazendo a revisão de um artigo sobre a museografia do Museu de Arte de Belém (meu primeiro texto publicado) me disse que "se um texto precisa ter explicação, não é um bom texto", e isso foi um balizador para minha visão de mundo. Espero que eu não precise de legendas explicativas.

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