O Rei está nu, há tempos, em Belém

Belém é uma terra muito rica em história, estórias e "causos". Só a complexidade que um fato se constitui num desses universos já seria o bastante, na escala amazônica, de configurar esse como um rico campo de pesquisas. Porém a nossa realidade cultural entremeia essas duas escalas e promove coisas maravilhosas como pesquisa científica sobre o mapinguari, best-sellers sobre visagem, além de uma vastíssima produção artística que amalgama os contextos eurocêntricos, indígenas negros e caboclos.
Contudo, mesmo assim, existem aqueles que se sentam sobre temas, apoderando-se deles como um território conquistado. E a plebe rude continua a repetir, sem questionamento crítico, a atribuição quase genética de determinados nomes a campos de pesquisa vastíssimos.
Cuidado quem for pesquisar sobre monumentos, história da arquitetura e das artes plásticas paraense, alguns elementos, espaços e constuções! Talvez tenha-se que pedir permissão - tomar a bênção - de determinadas pessoas. O pior é não haver liberdade para uma releitura crítica dessa produção, pois, via de regra, você, pesquisador de primeira viagem, é empurrado à orientação destes baluartes como se mais ninguém pudesse fazer um acompanhamento da sua reflexão, e repetir-lhes.
Dia 11 de setembro, o Dr. Afonso Medeiros, professor e diretor do Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará foi convidado para uma banca de defesa da especialização promovida pelo Fórum Landi. Já havia ouvido esse discurso antes, mas achei maravilhoso quando ele, na frente de alguns bem-sentados-em-temas, lançou ao ar a necessidade de quebrar o telefone-sem-fio da repetição infinda, sem questionamento crítico. Da necessidade de que haja o contraponto, a antítese, para a construção de teses realmente consistentes. Afonso colocou naquele momento, com sua elegância irônica, o que todos sabemos: que temos que derrubar essas fronteiras, e destruir territórios mal-formados e superados, por mentes e capacidades. Alguém me questionou sobre nomes, ao que respondi: quantas pessoas você conhece com esse perfil? Aí percebeu-se que não era nenhum ataque pessoal, mas contextual. Espero que nesse fórum de arquitetura, a bomba do Afonso tenha sido demolidora.

Comentários

esteblogminharua disse…
Oi, Claudia, que legal esse post. Interessante é que, faz algum tempo, fiz uma postagem com o título "O rei está nú: o velho paradigma em agonia", em que trato mais ou menos desses pontos qwue vc. tão bem aborda. Parabéns!
FRanz
Claudia disse…
Obrigada pelo comentário Franz!
Acho que temos que fortalecer,em Belém, uma nova mentalidade em relação à produção cultural, de forma ampla.
Conto contigo e conte comigo para engrossarmos esse caldo!!
Olá,
Gostaria de entender o conteúdo dessa postagem, que somente hoje (20/06/2009) li, pois o fato (a dita monografia) se refere à defesa da minha monografia, cujo assunto foi a Capela Pombo, obra atribuída ao arquiteto Landi.
Se puder me responder, ficarei agradecido.
Domingos Oliveira.
dscoliveira2008@gmail.com
Claudia disse…
Domingos

Eu fui na tua defesa, mas o comentário não é SOBRE a sua defesa, mas sobre o discurso do Afonso Medeiros.

Como o seu trabalho tava estudando a questão da autoria de Landi, achei muito propício o discurso do Afonso, e muito necessário também.

Poucas pessoas têm a consistência necessária para contrapor o discurso estabelecido, além dos 'feudos temáticos' que se formam, e apenas o fortalecimento de uma mentalidade científica e de pesquisa séria é capaz de fortalecer o solo para esses frutos.

E muita gente se acha 'dono' de determinados temas, aqui em Belém! Eu já passei por isso: ser convidada a reverenciar ou mesmo repetir o discurso alheio, como se não fosse capaz de desenvolver tese própria [ou mesmo não concordar com a tese alheia]. Por isso não conclui minha especiallização em História. Em Belém é muito difícil você fazer uma resenha crítica, isso para tirar por menos!!

Acredito sinceramente que o seu bom trabalho inspirou o discurso do Afonso.

Eu gostei da tua apresentação, e ouvi elogios de pessoas mais próximas de ti e que eu respeito: Rose, Ida, por exemplo.

Em tempo: parabéns!

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