Uma brisa em Belém...

Não sou uma pessoa vaidosa. Por isso não me preocupei em divulgar esse blog. Mas surgiu no Orkut um post para divulgar blogs, na comunidade do curso de arquitetura da UFPA. Achei que seria conveniente...
Eu tenho plena convicção que, em Belém, as discussões teóricas em arquitetura e urbanismo existem em pequenas rodas: normalmente regadas a chopp ou algo assim. Ou em torno de uma mesa no Ministério Público, normalmente as que levam a algum resultado prático. Fora isso, há muita vaidade e muito pouca vontade de se discutir. Talvez seja o excesso de sol, ou o progressivo caos desta cidade. Mas um pequeno vento surgiu, uma brisa...
Tem servido para confirmar minha tese de que as pessoas de consciência nessa cidade precisam colocar seus pontos de vista. Conheço muita gente poderosa nessa terra que está oprimida e traumatizada por tanto se abater às pressões de uma pseudo intelectualidade, que pensa trazer na herança genética a capacidade de (estes sim) grandes nomes do passado. De historiadores, engenheiros-arquitetos, artistas, pesquisadores, precursores de uma mentalidade que insiste em querer se repetir. .. como farsa.
Há uma falta de capacidade de crítica na arquitetura em Belém, que extrapola o espaço da discussão à produção (ou melhor, reprodução, muitas vezes).
Onde está o grande poder de articular a riqueza de matéria-prima local, para a solução das demandas específicas deste espaço geográfico, cheio de vicissitudes do clima, econômicas, sociais e culturais? Onde está o diferencial do perfil da nossa praxis em relação a outras profissões, como engenharia civil? Será possível que, em plena Amazônia (meio, e não periferia do mundo!) estaremos fadados a reproduzir modelos, numa terra de valores tão próprios? Por quê?
Há muito as escolas de arquitetura jogam no mercado de trabalho dezenas de formandos todos os anos, com o único objetivo de fazer uso de seu passe-diploma de um espaço no mercado de trabalho, muitas vezes se sujeitando a condições que aviltam o esforço de anos de formação, como salários abaixo do mínimo profissional, condições precárias ou, para quem se lança como profissional liberal, a uma quase prostituição, quando se mantém na área.
Mas o vento não traz o cheiro de peixe do Ver-o-Peso ou dos canais que, sem o devido tratamento sanitário e vazão, putrefazem o ar. Seguem alguns recortes da discussão.

"Temos que fortalecer a discussão!
Acho que existe uma massa crítica sim, em Belém, mas não há espaço para diálogo (no sentido literal do termo, existe muito discurso...).
Nosso patrimônio cultural arquitetônico está penando em todo o estado, e a própria formação dos futuros arquitetos é pífia. Sequer sabem reconhecer o que é um prédio de interesse à preservação e uma construção "bontinha". Não há critério nem conhecimento!
Um povo que não consegue reconhecer, dentro de sua área de atuação profissional, os valores culturais, como pode exigir uma consciência da sociedade? Tá difícil...
Vamos divulgar e fortalecer quem ainda se propõe a falar, e estabelecer novos diálogos!"

"Acho que falamos a mesma coisa... Uma coisa é a qualidade da arquitetura, outra coisa é o domínio de sua linguagem pelos próprios arquitetos.
Devemos preservar, não o que é antigo, até porque bobagem se faz a qualquer tempo e lugar. Mas a boa arquitetura, essa sim, deve ser objeto de preservação, independentemente de datação.
Muitos dos exemplares da arquitetura modernista no Pará já são objeto de proteção por possuírem processos de tombamento constituídos. A escola municipal Benvinda de França Messias, é tombada pelo município, por exemplo. Muita gente já pensa na proteção da (boa) arquitetura tropical, maior parte produzida na década de 1980, por nomes locais que deram a Belém o título de produtora de boa arquitetura: Castro, Monte, Gaby... Essa coisa de homenagem póstuma é extremamente cruel, para qualquer ser criador!
Se preserva, muitas vezes, para instituir uma condição (ao menos legal) que garanta a sua permanência como referencial, não para nós, mas na perspectiva do futuro.
O tombamento de grandes edifícios, de 20, 30 andares é algo utópico, mas eu gostaria de ver um dia. Digo utópico porque o tombamento, na maior parte das vezes, visa preservar algo que está em estágio de fragilidade. O ideal é que a cidade tenha vida e conservação, através da verdadeira valoração de seus espaços."

Falando em conceito... Ainda tem muito arquiteto sem domínio de termos e conceitos. Não se usa, há pelo menos uns 10 anos, o termo "patrimônio histórico", mas "patrimônio cultural", que é mais abrangente, garantindo atender à complexidade de condições que um bem cultural pode atender, inclusive a histórica!

Comentários

Obrigado pela visita ao meu blog, Claudia. Obrigado pelos comentários. Poesia e bem querer. Sempre.

Estima,

Carlos Correia Santos

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