E que venha 2013!

Recebi por e-mail a mensagem do amigo Aldrin Figueiredo (Professor, Doutor, Historiador da UFPA, mas preferi o título de "amigo" pois assim me foi endereçado)  e gostaria de compartilhar com todos que me seguem e seguem meu blog. 
Esse é o espírito: conhecimento e emoção. Vida, morte e renovação. Sempre!
Que venha 2013!

"Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente."
Vinícius de Moraes, Poema de Natal

"O natal é uma das festas mais importantes da cristandade e tem esse aspecto universal que chama muito a nossa atenção. A palavra "natal" do português vem do latim nātālis, derivada do verbo nāscor no sentido de nascer. O significado da época está claro: nascimento, renovação, vida. Tanto que chamamos de terra-natal ao local onde as pessoas nascem. A minha terra-natal é Alenquer, cuja irmã em Portugal, coincidentemente, é chamada Cidade Presépio. Como sou historiador, não posso deixar de lembrar que a data é uma convenção da igreja romana, comemorada no dia 25 de dezembro desde o Século IV pela Igreja ocidental e desde o século V pela Igreja oriental, com o objetivo de celebrar o nascimento de Jesus. Sempre fui curioso para saber como essa celebração começou. Muitos historiadores localizam a primeira celebração em Roma, por volta do ano 336 D.C. De acordo com o Almanaque Romano, a festa já era celebrada na parte Oriental do Império Romano no dia 7 de janeiro em virtude da não-aceitação do Calendário Gregoriano. No século IV, as igrejas ocidentais passaram a adotar o dia 25 de dezembro para o Natal e o dia 6 de janeiro para Epifania (que significa "manifestação"). Nesse dia comemora-se a visita dos Magos, por isso popularmente comemoramos o Dia de Reis. Na Alenquer paraense, a festa de Reis acontece no mesmo dia da festa de São Benedito, no bairro de Luanda (em evidente homenagem às famílias negras de ascendência angolana que fundaram esse bairro), onde se apresentava ainda a pastorinha na frente da Igreja e eu, quando criança, muitas vezes vi dançar.

Esse aspecto de mistura de muitas tradições é antigo. Li que a data de 25 de dezembro não é a data real do nascimento de Jesus. A Igreja entendeu que devia cristianizar as festividades pagãs que os vários povos celebravam por altura do solstício de Inverno. É certo que o dia 25 de dezembro foi adotado para que a data coincidisse com a festividade romana dedicada ao “nascimento do deus sol invencível", que comemorava o solstício de inverno. No mundo romano, a Saturnália, festividade em honra ao deus Saturno, era comemorada de 17 a 22 de dezembro; era um período de alegria e troca de presentes – esse aspecto permaneceu na tradição do natal cristão, especialmente com os presentes dados às crianças - como fazemos com nossos filhos e sobrinhos. O dia 25 de dezembro era tido também como o do nascimento do deus persa Mitra, chamado o Sol da Virtude – tradição que entrou em contato com o mundo grego e romano, desde antes mesmo de Cristo. Por isso, ao invés de proibir as festividades pagãs, a Igreja deu-lhes um novo significado e uma linguagem cristã. As alusões dos padres da igreja ao simbolismo de Cristo como “o sol de justiça" (citando Malaquias 4:2) e a "luz do mundo" (citando João 8:12) revelam essa alusão a um significado muito mais antigo.

As evidências históricas confirmam o esforço de converter pagãos na adoção da festa que era celebrada pelos romanos, como o "nascimento do deus sol invencível" (Natalis Invistis Solis). A idéia era tentar fazê-la parecer "cristã". As velhas irmandades da Amazônia organizavam missas e cerimônias religiosas para os índios e pretos no Natal para demonstrar o nascimento de Cristo. A própria cidade de Belém recebeu este nome porque foi fundada na época do Natal. O forte do Castelo foi chamado inicialmente Presépio, pois toda a viagem que antecedeu a chegada dos portugueses no lugar que seria a cidade de Belém ocorreu no tempo do Natal, entre 23 de dezembro de 1615 e 12 de janeiro de 1616. Portanto a história da nossa cidade está profundamente relacionada à simbologia do Natal. É importante que se diga que há muito tempo se sabe que o Natal tem raízes pagãs. O interessante é que, por causa de sua origem não-bíblica, no século XVII essa festividade foi proibida pelos protestantes na Inglaterra e em algumas colônias americanas. Quem ficasse em casa e não fosse trabalhar no dia de Natal era multado e punido nas igrejas. Mas os velhos costumes logo voltaram, e alguns novos foram acrescentados. O Natal voltou a ser um grande feriado religioso e continua sendo na maioria dos países. Eu escrevi isso aqui para desejar a todos os amigos um FELIZ NATAL!

Belém do Pará, Bethelehem, Casa do Pão, Terra do Açaí, em 24 de dezembro de 2012."

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